quarta-feira, 24 de abril de 2013

Me tornando quem eu nasci para ser

     Durante a minha adolescência, eu costumava enxergar a vida que eu vivia como um treino, um rascunho, para quando minha vida começasse de verdade, quando eu enfim completasse os famigerados dezoito anos e ingressasse na universidade, tivesse liberdade para ir e vir e pudesse conhecer o mundo. Todas as decepções e todas as alegrias que eu vivia, encarava como lições que eu ia anotando na minha apostila do Curso Preparatório Para a Vida Real. Mesmo as coisas ruins, eu enxergava como algo que me ensinava uma lição que me deixaria mais próxima da pessoa que eu estava destinada a ser. Como se eu ainda não fosse uma pessoa, como se fosse apenas o feto da Gabriela do futuro.
     É claro que já naquela época eu enxergava vagamente que aquilo não era um pensamento lá muito racional ou saudável. Que, enquanto eu vivia com essa mentalidade de que a minha vida real ainda não tinha começado, e aquela pessoa que eu era não era quem eu estava destinada a ser, eu poderia estar perdendo muita coisa daquela vida que, se não era a dos meus sonhos, era a minha. Mas eu simplesmente não podia evitar.
     Hoje eu estou no lugar em que tantas vezes me imaginei aos 15 anos. Uma adulta (ao menos do ponto de vista legal). E ao olhar para mim mesma, não vejo nada daquela mulher confiante, madura, bem-resolvida, magra, misteriosa, que nunca fica constrangida sem motivo, sempre sabe a coisa certa a dizer e nunca se sente sozinha no meio da noite em uma cama grande demais para um, que eu ansiava por me tornar. Para ser honesta, me sinto muito mais parecida com a adolescente melancólica e ansiosa que começou um blog para botar para fora suas emoções, quando estas pareciam não caber-lhe dentro, do que com essa personagem mítica que minha imaginação púbere criou.
     Talvez eu tenha fracassado nas aspirações que eu tinha para mim mesma. Talvez ser gente grande seja assim mesmo: Não acontece uma grande transição em que você descobre todas as respostas e Quem Você Realmente É. Você se torna adulto, às vezes sem nem se dar conta, mas continua para sempre se sentindo pequeno e frágil num mundo por demais grande.

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