sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Banho

Escrito em 20/04/2012

     O barulho contínuo dos jatos de água saindo dos vários buraquinhos que junto com o barulho contínuo dos jatos de água saidos dos vários buraquinhos batendo no chão de azulejo não-tão-branco formava o barulho de chuveiro era a única trilha sonora de uma madrugada de quinta-feira num apartamento vazio. O som da água caindo sempre constante por minutos a fio uma hora começava a tomar uma quase musicalidade que era quase  como se você pudesse perceber micro alterações no ritmo com que aqueles banais jatos de água saiam daqueles banais vários buraquinhos, se você realmente parasse para prestar atenção.
     Mas Carolina não realmente parava para prestar atenção. Não que estivesse tomando um banho muito apressada. Mas o barulho dentro de Carolina era mais forte do que o barulho fora, vocês me entendem? É claro que não entendem.
     Porque naquela madrugada de quinta-feira a alma de Carolina estava transbordando todo o mal do mundo, como uma caixa de pandora desgraçada que fica na maior parte do tempo fechada tilintando dentro do coração, mas naquela ocasião abriu-se regurgitando toda aquela dor assombrosa que você poderia comparar com mil dedinhos chutando mil quinas de madeira que ainda não seria o suficiente.
     Naquele dia Carolina preferiu deixar que seus monstros tomassem conta do corpo magro como uma sombra, fazendo-a tremer-se inteira, sentada nua no chão de azulejos, deixando a água escorrer-lhe pela nuca, impotente diante da grandeza daquele sofrimento que não lhe era cabido.

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